A depressão e os quadros depressivos na adolescência

O que podem pais e professores fazer para ajudar?

São vários os sinais que podem indicar que algo não está bem com o/a adolescente sendo fundamental que os pais e professores tenham informação e conhecimento que lhes permita identificar a depressão na adolescência.

Mudanças físicas e emocionais, pressão entre pares ou medo de não corresponder às expectativas dos pais são acontecimentos e sentimentos habituais durante a adolescência. No entanto, para alguns jovens o impacto é maior e os sentimentos de tristeza e a perda de interesse por quase tudo são persistentes e afetam todas as esferas da sua vida.

A depressão afeta a forma como o adolescente pensa, sente e se comporta, podendo causar problemas físicos, emocionais e até funcionais.

 

Para saber mais sobre a depressão na adolescência e estar alerta aos sinais de alarme, tenha em atenção a seguinte informação:

 

Fatores de risco

Existem fatores que aumentam o risco de desenvolver ou desencadeiam a depressão no adolescente, tais como:

  • Ser do sexo feminino – a depressão é mais frequente em raparigas
  • Obesidade
  • Baixa autoestima
  • Problemas de relacionamento
  • Bullying
  • Ter sido vítima ou testemunha de violência física ou sexual
  • Ter anorexia ou bulimia
  • Ter uma perturbação de aprendizagem
  • Ter uma doença crónica
  • Consumir tabaco, bebidas alcoólicas ou drogas
  • Alteração da orientação sexual
  • Ter um pai, avô ou outro familiar com depressão, transtorno bipolar ou problemas de alcoolismo
  • Ter um membro da família que se suicidou
  • Ter passado por eventos recentes traumatizantes, como a morte de um familiar ou o divórcio dos pais

 

Os principais sinais de alarme da depressão na adolescência

Os pais e professores devem estar atentos e ter consciência que a depressão não é uma “fraqueza” que pode ser ultrapassada apenas com força de vontade, sendo necessário procurar ajuda e tratamento especializado, que pode incluir a toma de fármacos e acompanhamento psicológico.

Os sinais e sintomas de depressão na adolescência incluem alterações nas emoções e comportamento, como:

 

Emoções

  • Sentimentos de tristeza que podem incluir ataques de choro sem motivo aparente
  • Irritabilidade, frustração e raiva
  • Perda de interesse pelas atividades do quotidiano
  • Perda de interesse pela família e amigos ou relações conflituosas com estes
  • Sentimentos de inutilidade, culpa e de autocrítica
  • Hipersensibilidade a eventuais rejeições ou falhas e necessidade excessiva de ser tranquilizado
  • Dificuldades de concentração, memória e em tomar decisões
  • Sensação que o futuro será difícil e “negro”
  • Pensamentos frequentes sobre morte, morrer e suicídio

 

Comportamento

  • Ter insónias ou dormir demasiado
  • Alterações no apetite que podem incluir perda de apetite e de peso ou comer demasiado e engordar
  • Consumo de bebidas alcoólicas ou drogas
  • Agitação ou inquietação
  • Pensamentos e movimentos mais lentos
  • Dores de cabeça ou no corpo sem razão aparente
  • Menor rendimento escolar
  • Aparência física pouco cuidada
  • Comportamentos de risco
  • Automutilação (cortes, queimaduras)

 

O que os pais e professores podem fazer

Embora o diagnóstico de depressão não seja nem deva ser papel dos educadores, a escola e o professor desempenham uma função extremamente relevante no reconhecimento dos sintomas de depressão, uma vez que a presença da depressão interfere no rendimento do aluno e também tende a influir no emprego de estratégias de aprendizagem. Perante um ou mais sinais de alarme, os pais e professores devem conversar com o adolescente, tentando perceber o que este está a sentir.

Se os sintomas de depressão se mantiverem por mais de duas semanas, os pais devem aconselhar-se com o pediatra e/ou com o psicólogo.

 

Recomendações/sugestões para os professores

Os professores têm diversas oportunidades de, ao longo do dia, dentro e fora da sala de aula, observar sinais e mudanças no comportamento das crianças e adolescentes que podem indicar a existência de problemas de Saúde Psicológica.

 

Esteja atento aos seguintes sinais/mudanças no comportamento dos seus alunos:

  • Comportamento agitado (não consegue ficar sentado ou fazer as atividades propostas);
  • Diminuição do desempenho escolar, chegar constantemente atrasado e faltar às aulas;
  • Dificuldades em concentrar-se;
  • Isolamento (parece passar muito tempo sozinho/tem poucos amigos) e falta de interesse pela interação com os outros;
  • Medo, preocupação ou ansiedade excessivas;
  • Sentimentos de tristeza duradouros;
  • Ficar facilmente irritado ou zangado sem razão aparente;
  • Agressividade contra si próprio ou contra os outros (por exemplo, auto mutilar-se, envolver-se em lutas e brigas com os colegas, usar armas);
  • Falta de motivação;
  • Cansaço, perda de energia e falta de interesse pelas atividades habituais;
  • Baixa auto-estima;
  • Comportamentos perigosos como ingestão abusiva de álcool ou drogas.

 

O bem-estar emocional é essencial para o funcionamento quotidiano bem-sucedido na sala de aula e influencia o desempenho académico e a aprendizagem. Também é importante para as relações interpessoais, o desenvolvimento social e saúde mental em geral. Os componentes do bem-estar emocional incluem o sentido de si próprio (autoconceito, autoestima), o sentido de controlo sobre si mesmo e o seu ambiente (autoeficácia, locus de controlo), sentimentos gerais de bem-estar (felicidade, contentamento, calma), e a capacidade de responder de forma saudável ao stress quotidiano (competências de coping). Ser emocionalmente saudável depende compreender, expressar e regular ou controlar as próprias emoções, bem como percecionar e compreender as emoções dos outros (empatia). A compreensão das emoções dos outros é influenciada pela forma como os alunos percecionam as expectativas externas e a aceitação por parte de outras pessoas significativas na sala de aula, família, grupo de pares, comunidade e ambiente social.

E qual a relevância de tudo isto para os professores? O bem-estar emocional dos alunos pode influenciar a qualidade da sua participação no processo de ensino-aprendizagem, as suas relações interpessoais, a eficácia da sua comunicação e a sua capacidade de resposta ao clima da sala de aula. Ao mesmo tempo, o clima da sala de aula pode influenciar o sentimento de segurança e aceitação dos alunos, perceções de apoio social, sentido de controlo e bem-estar emocional geral. O professor desempenha um papel fundamental no estabelecimento de um clima em que todos os alunos são aceites, valorizados e respeitados; têm oportunidades para o sucesso académico e apoio relevante; e têm oportunidades para relações sociais positivas com adultos e pares.

 

Os professores podem ajudar a facilitar o desenvolvimento emocional:

  • Usar vocabulário emocional – por exemplo, facilitar a identificação de emoções (por exemplo, feliz, triste, receoso, zangado)
  • Modelação de expressões e reações emocionais apropriadas
  • Ensinar estratégias de regulação da emoção, tais como “parar e pensar antes de agir” e respiração profunda
  • Promover a compreensão emocional dos outros, tais como empatia e compaixão
  • Monitorizar as suas expectativas para garantir que são igualmente encorajadoras para todos os alunos, independentemente do seu desempenho anterior

 

Lembrando que a criança ou adolescente que manifesta sintomas depressivos precisa de uma ajuda especial para encontrar prazer na sala de aula é fundamental a atenção às emoções envolvidas no processo de ensino-aprendizagem.

 

Recomendações/sugestões para a família

Mesmo quando os filhos são acompanhados por um psicólogo, os pais também podem ajudar os filhos a lidar com a depressão. Podem, por exemplo:

  • Ouvi-los com atenção e empatia, assim como comunicar com gentileza, evitando criticismos, discussões e ameaças;
  • Falar sobre suicídio. Se a criança ou adolescente faz comentários sobre a morte ou desejar morrer é importante falar com ela sobre o assunto, sem medo que isso encoraje atos suicidários;
  • Recordar aos filhos que os amam e que acreditam neles;
  • Elogiar os seus comportamentos e características positivas, mostrando também ter expectativas positivas sobre o seu futuro;
  • Ajudá-los com trabalhos ou atividades nas quais estejam a ter dificuldades;
  • Responsabilizá-los pelas suas tarefas em casa e na escola, mantendo o seu foco nas rotinas e atividades habituais;
  • Simplificar o horário e os compromissos diários (atividades extracurriculares, tarefas domésticas, etc.) de modo a que a criança/adolescente possa ser bem-sucedida no seu cumprimento;
  • Garantir que adotam um estilo de vida saudável – comer bem, dormir bem e fazer exercício;
  • Fazer atividades juntos que deem prazer a ambas as partes – passear, ver um filme, praticar um desporto, cozinhar, etc.;
  • Decidir em família o que dizer às pessoas que não pertencem à família sobre a doença, determinando o que é confortável para a criança/adolescente (por exemplo, “estive doente, mas já estou a receber ajuda e sinto-me melhor”).