Literatura e Saúde Psicológica – O caso de Anton Tchekov

Pode a leitura dos autores clássicos contribuir para a formação dos psicoterapeutas e analistas? Descobrir a obra de Anton Tchekhov, na minha opinião, diz-nos claramente que sim.

Como escritor, Tchekhov, pautou pela máxima de que o papel de um artista é o de fazer perguntas, não o de respondê-las, perspetiva que é muito cara à Grupanálise e com a qual todos os psicoterapeutas analíticos de grupo certamente se identificam.


Tchekov e sua esposa Olga Knipper

Anton Tchekhov foi um médico e escritor russo. Considerado como um dos maiores contistas de todos os tempos, o autor nasceu em Taganrog (Império Russo) a 29 de Janeiro de 1860 e veio a falecer aos 44 anos de idade em Badenweiler (Império Alemão), a 15 de Julho de 1904, três anos após ter casado com a atriz Olga Knipper em 1901.

A genialidade de Anton Tchekhov como contista não se confina só ao domínio da técnica literária do conto, o autor apresenta uma visão compreensiva e atual dos fenómenos sociais e das relações humanas.

Dos seus inúmeros contos opto por destacar aqui quatro pela sua relação mais evidente com a temática da saúde mental:

A Tristeza, publicado originalmente em 1885, onde se aborda magistralmente o processo de luto e a importância da escuta;

O Mendigo, publicado originalmente em 1887, que discorre sobre a problemática dos sem-abrigo e dos fatores de reabilitação psicossocial da mendicidade;

A Enfermaria n.º 6, publicado originalmente em 1892, onde se expõe o manicómio como instituição total (conceito desenvolvido por Erving Goffman) em que os doentes perdem a condição humana.

Um Caso da Prática Médica, publicado originalmente em 1898, com o qual podemos refletir sobre a relação terapêutica médico-doente e o entendimento do sofrimento humano para além da medicalização.

A obra completa de Anton Tchekhov encontra-se traduzida para português e publicada por várias editoras.

Boas leituras!